domingo, 31 de julho de 2011

Ocaso


Que manto cinza e lúgubre
Vestem as coisas belas
Em se afastando sua beleza insigne
Da natureza imperiosa...

O rouxinol roufenha
As arvores fenecem
As flores murcham
O riacho empesta, o vento enfurece

As vagas esbatem-se furiosas
No granito álgido.
O bem supremo, desvirtua-se funesto
Não tendo a rainha dos encantos

Que equilibra as estações e a vida
Rege a bonança e sustém a sabedoria...
Toca, oh bardo! A sua lira dolorosa
Verte o aljôfar lânguido e premente
Palpita-lhe o peito opresso
Cortando a imensidão os seus ais.

                             Rômulo Chaves


sábado, 30 de julho de 2011

O que Realmente Importa...

¨Quantos vícios reais são muitas vezes
ocultados por virtudes aparentes¨
J.J Rousseau

O que realmente importa não é o caminho que percorres, mas aonde quer chegar, pois o objetivo nobre faz-nos forte, torna o nosso passo resoluto, e nossas atitudes idôneas, enquanto a incerteza e a dúvida podem nos levar a tirania...
O que realmente importa não é cruzar os oceanos e ver as mais belas paragens e estações, o que realmente importa é atravessar a rua e encontrar um sorriso sincero e acolhedor, pois por mais longa que a estrada seja um dia ela acaba, mas a fraternidade, jamais.
O que realmente importa não é ser rico, porque isso não podemos determinar, mas o que você faz da riqueza, pois isso demonstra quem és, e se a vida lhe colocou nesta situação, quantos corações fizeste feliz com a riqueza confiada a ti, quantas lágrimas secou, quantos desesperados asserenou, quantos doentes soergueu, quantas crianças impediu a brutalização pelo crime, quantos idosos amparou, quantas jovens não permitiu que adentrassem na prostituição... Pois os cofres por mais cheios que estejam e por mais invioláveis que pareçam, permanecerão nos bancos, mas a caridade segue seu dono onde quer que ele esteja perpetuando em si a felicidade.
O que realmente importa não é o quão facilmente você diz que ama uma pessoa, mas se realmente ages assim, porque a boca às vezes fala o que ordena o interesse, mas a atitude vem do coração.
O que realmente importa não é quão grande foram os seus sofrimentos durante a vida, mas o que você aprendeu com eles, porque a nossa felicidade é maior ou menor segundo o modo que nos comportamos diante das circunstâncias que não conseguimos mudar nem mesmo evitar, e se triunfar um revés é difícil, mais ainda é ser sereno diante dele.
O que realmente importa não é a religião que segues, mas que tenhas uma, e seja sincero devoto, pois caminhos há vários, mas a moral é uma só, e não crê numa doutrina sã aqueles que ao invés de reunir as suas forças para ser uma pessoa louvável, as desperdiça em depreciar, criticar e rebaixar os outros.
O que realmente importa não é se és negro, branco, vermelho ou amarelo, se nasceste na América Latina, na Europa ou na Ásia, pois tudo isso passa...o que realmente importa é o que conservas em seu coração, por que isso é o vestígio da eternidade em cada um de nós.
O que realmente importa não é se os outros lhe respeitam, pois isto certos cargos impõe, o que realmente importa é se você respeita os outros, porque toda virtude é uma escolha pessoal, e ser nobre é mais difícil que ser chefe, pois é fácil mandar nos outros, difícil é domar as próprias paixões.
O que realmente importa não é se és homem ou mulher, mas que enfrente com dignidade e intrepidez suas dores e responsabilidades, que sejas honesto, trabalhador, sincero e amável, pois a única perspectiva do futuro que temos é o que somos hoje, e não há quadro mais desolador do que uma geração corrompida e entregue aos vícios.
O que realmente importa não é o quão forte o destino lhe afligiu, mas se tens a humildade e a força intima, para reerguer-se, para recomeçar e para trilhar novos caminhos, pois tudo o que nos rodeia é transitório e efêmero, apenas nos pertence aquilo que somos, porque não pode nos ser subtraído em momento algum...
O que realmente importa enfim é o que a mais das vezes deixamos de lado por fantasias e superficialidades que além de enfadar os nossos sentidos, consternam a nossa alma...
A felicidade é como a nascente que corre na encosta de uma montanha; tão cristalina, tão simples e tão ignorada...

                                                                                                                                   Rômulo Chaves

Um lugar além de nossos Sonhos...

O homem não é apenas um ser pensante, mas também alguém que sente.
Ele é um todo, uma unidade de forças múltiplas intimamente associadas.
A obra de arte deve falar a este todo, corresponder a essa rica unidade,
a essa multiplicidade que nele existe. ( Goethe )

Há certamente momentos em que nosso espírito anseia por encontrar um lugar, uma paragem, um refúgio enfim, onde possa acalentar as suas angustias, reconfortar as suas decepções e balsamizar o seu desalento, principalmente num século como o nosso, em que os bons costumes, os bons valores estão corrompidos terrivelmente, e os bons sentimentos são atraiçoados por alegrias fortes ou fantasias descabidas, esses abalos internos, essas convulsões furiosas são ainda mais contundentes, e tem repercussão e efeitos ainda mais danosos nas almas sensíveis.
Os clamores por uma sociedade justa, por direitos elementares invioláveis e por um sistema democrático plausível são asfixiados por interesses corriqueiros, pessoais e por assim dizer... Baixos. Nada de novo abaixo do sol, além da pertinaz e vã vaidade humana... O povo esfaimado procura alimento num latão de lixo e encontra apenas um livro de Platão, pois que o homem moderno não precisa educar a sua alma, tão somente regalar o seu corpo.
Entretanto quando grandes catástrofes assolam, vergastam-nos impiedosamente, quando nos vemos diante de nossa própria pequenez e vulnerabilidade, quando vimos as Torres Gêmeas caírem, a guerra desumana no Afeganistão, a força destruidora do Tsunami, a vertiginosa velocidade trágica da gripe A, e as bárbaras atrocidades em nossa sociedade civil, repensamos nossos valores, reavaliamos as nossas diretrizes e sobretudo, tememos por nosso destino vivendo nossa vida, ou melhor discorrendo celeremente nossos dias ao sabor do imediatismo e das frivolidades, então volvemos nosso olhar e reavivamos a nossa atenção aos grandes gênios, eis então diante de nós: Shakespeare, Aristóteles, Shiller, Davinci, Victor Hugo, Cervantes, Walter Scott, Rousseau, Homero, Virgilio, que recolocam-nos nos benévolos caminhos, os quais abandonamos por ingenuidade, pois que a cultura, a arte e o belo são os únicos licores celestes que perpetuam a serenidade em nosso espírito, é o único facho de luz que esbate as trevas da ignorância e da perturbação, causadoras dos intrincados problemas psicológicos de nossos tempos, e é preciso cercar o gênero humano de luzes, de livros, de conhecimento, de poesia, de filosofia, para que ele não se perca na neblina espessa, insinuante e perigosa do desespero.
Certa vez alguns imprudentes disseram, ¨A arte pela arte¨... De modo algum, proclamemos em uníssono e em bom tom batendo em nossos peitos: ¨A arte para o progresso¨, a ¨A arte para o povo¨ , pois apenas assim encontraremos o lugar que tanto almejamos, aquele lugar além de nossos sonhos...

                                                                                                                              Rômulo Chaves